O Dia do Armistício, conhecido como L’Armistice é uma comemoração do fim simbólico da Primeira Guerra Mundial. O evento ocorreu em 11 de novembro de 1918, e a data comemora o Armistício de Compiègne.

Esse foi um tratado assinado entre os Aliados e o Império Alemão em Compiègne, na França. Ali ficou confirmado o fim das hostilidades na Frente Ocidental, o qual teve efeito às 11 horas da manhã.

O armistício é um tratado assinado por vários governos decretando o fim de hostilidades armadas em tempos de guerra. Apesar disso, não pode ser considerado como a declaração oficial que põe fim a uma guerra.

O dia de assinatura do armistício é considerado festa nacional em diversos países vencedores de um conflito armado. Por esse motivo, na Alemanha não se celebra a data.

Na WWI morreram aproximadamente 1,4 milhões de franceses – 10% da população masculina do país adulta à época. Esse mesmo número também significa a morte de 50% dos trabalhadores rurais da França.

Em 12 de novembro, o jornal ‘Correio da Manhã’ estampou a notícia em sua primeira página com a seguinte manchete:

AMSTERDAM, 11 – (Correio da Manhã) – “O armistício foi assinado pelos delegados alemães, às 6 horas da manhã de hoje. Às 11 horas terminaram as hostilidades.

Leia a matéria no jornal da época, na íntegra aqui:

O Dia do Armistício: Acabou-se a guerra?

O carro dos negociadores alemães atravessou a fronteira da França em 6 de novembro de 1918. Os exércitos ainda se confrontavam, mas a guerra — que já durava mais de quatro anos — parecia estar próxima do fim.

Talvez os políticos vindos de Berlim até trouxessem consigo alguns cigarros, um gostinho da futura paz? O líder da delegação alemã, Matthias Erzberger, teve que desiludir os combatentes. “Como não fumante, eu não pude realizar a vontade deles”, relatou em seu livro de memórias.

Pouco mais tarde, na madrugada de 11 de novembro, ocorria o que viria a ser conhecido como Dia do Armistício. Ele e sua contraparte francesa, o marechal Ferdinand Foch, preencheriam plenamente os anseios de milhões de europeus.

Num vagão de trem no bosque de Compiègne, cidade francesa a cerca de 90 quilômetros de Paris, assinavam-se os papéis. Os dois colocaram sua firma no recém-negociado armistício entre a Alemanha e os Aliados: os alemães capitulavam.

No ano seguinte, em 28 de junho, no Palácio de Versalhes, ambos os lados assinariam oficialmente o acordo de paz.

Ajuda do outro lado do Atlântico

dia do armistício

Até meados de 1918, as tropas alemãs haviam avançado no front ocidental, ganhando muito terreno. No entanto, entre março e julho, o contingente se reduziu de 5,1 milhões para 4,2 milhões de militares.

O Império Alemão conseguiu fechar suas lacunas até o verão, mas só remobilizando soldados feridos e recuperados. Além disso, os primeiros recrutas nascidos no ano de 1900 iam chegando pouco a pouco.

Contudo, os alemães se viam agora diante de um inimigo totalmente novo: os americanos. Depois que o presidente Woodrow Wilson declarara guerra à Alemanha, em 2 abril de 1917, seus soldados avançavam pelo Oceano Atlântico. No início do outono de 1918, desembarcavam diariamente 10 mil deles.

O historiador John Keegan concorda que os jovens americanos eram inexperientes no combate. “Decisivo, porém, foi o efeito que sua chegada teve sobre o adversário: profundamente deprimente.”

No fim das contas, as bem equipadas unidades dos Estados Unidos é que decidiriam a guerra a favor dos Aliados. Dando início, assim, ao Dia do Armistício. Os supremos comandantes das tropas alemãs se viram logo forçados a aceitar que não era mais possível vencer o conflito. Somente a paz evitaria o colapso total no front alemão.

Os números antes do Dia do Armistício

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Até chegar à trégua de 11 de novembro, a Europa atravessara quatro anos de uma pavorosa carnificina jamais vista. Em sua viagem pela Bélgica e França, Erzberger registrou um quadro de desolação.

“Nenhuma casa mais de pé, uma ruína se sucedia à outra. À luz da lua, os destroços se erguiam no ar, fantasmagóricos; nenhum ser vivo se mostrava.”

O cronista e político do Partido Alemão do Centro traçou o balanço de uma guerra de letalidade sem precedentes. O avanço tecnológico e a industrialização haviam criado um arsenal que suplantava tudo o que já existira. Tanques aparentemente indestrutíveis, embarcações que manobravam debaixo d’água, artilharia de alcance gigantesco, gases mortais.

Em 1916, os alemães haviam colocado em ação o canhão ferroviário “Langer Max”. Lançavam assim, por meio de um tubo de 35 metros de comprimento, seus projéteis de 300 quilos, que atravessavam distâncias de até 48km. Com essa arma, Paris foi alvejada em 23 de março de 1918.

Algumas granadas atingiram a igreja de Saint Gervais durante um culto, matando 88 pessoas e ferindo cerca de 100. Historiógrafos militares estimam que, durante a Primeira Guerra Mundial, se lançaram 850 milhões de granadas de artilharia. Ao todo, as nações envolvidas convocaram quase 56 milhões de recrutas.

Antes do Dia do Armistício, porém, os números eram assombrosos. A matança se deu em escala industrial, com cerca de 11 milhões de soldados tombando sob a chuva de projéteis. Uma média de 6 mil combatentes mortos por dia de conflito. A esses se juntaram 21 milhões de feridos, paralíticos, cegos ou acamados.

Solo fértil para a próxima guerra

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Enquanto as alas alemãs rareavam progressivamente, o comando supremo se eximia de qualquer responsabilidade. Em 19 de setembro de 1918, o general Erich Ludendorff escreveu:

“Pedi à Sua Majestade para colocar no governo também aqueles círculos a que principalmente devemos a situação em que estamos. Portanto, agora veremos esses senhores assumirem os ministérios. Agora eles que tratem a paz que tiver de ser tratada. Eles que tomem a sopa que prepararam para nós.”

“Esses senhores” eram, para Ludendorff, as bancadas do Parlamento. Já em 1917, haviam pleiteado um acordo de paz: social-democratas, liberais de esquerda e o católico Partido Alemão do Centro.

Essa acusação de uma suposta traição pela pátria exausta da guerra foi também adotada por outros. Entre eles, oo mais alto militar do Império Alemão, o marechal de campo Paul von Hindenburg.

“O Exército alemão foi apunhalado pelas costas”, afirmou, supostamente citando o general inglês Frederick Maurice. Embora este tenha sempre negado com veemência haver dito tal frase, assim nascia a “lenda da punhalada”. Segundo ela, a Alemanha teria perdido a guerra devido à “traição” interna. Essa lenda contribuiu significativamente para o futuro fracasso da República de Weimar.

De início, o Dia do Armistício de 11 de novembro trouxe o fim da guerra que milhões de europeus ansiavam. No entanto, isso não significou automaticamente o fim do sofrimento. Privação e luto seguiram pesando sobre o povo, agravados pela sensação de ter lutado e sofrido em vão.

“A falta de sentido, ao chegar a seu ponto mais alto, é raiva, raiva e raiva e continua não fazendo sentido”, resumiu o escritor austro-húngaro Walter Serner. Esse sentimento tóxico tomou conta dos alemães e seria o solo fértil para a ascensão de um ex-soldado do front. Futuramente, este seria conhecido como Adolf Hitler.

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