Cordon bleu (fita azul) é uma daquelas expressões que sempre ouvimos no dia a dia, mas que nem sempre entendemos. Por nomear uma rede internacional de escolas de gastronomia e hotelaria, já podemos imaginar sua ligação com a história francesa. Principalmente, da gastronomia da França.

A origem do termo

le cordon bleu
Foto: Reprodução Facebook Le Cordon Bleu Brasil

Conta-se que a origem do termo vem de uma condecoração da monarquia francesa. Fundada em 1578 por Henri III, era conhecida como a Ordre du Saint-Esprit (Ordem do Espírito Santo).

Os membros dessa elite de cavaleiros utilizavam como emblema uma cruz de Malta suspensa em uma grande fita azul-celeste. Daí surgiu a expressão.

Apesar da ordem ter sido abolida na Révolution française (revolução francesa), a expressão foi por séculos símbolo de distinção na aristocracia. Ela podia ser aplicada, como metáfora, a tudo que constitui algo de prestígio, de grande elevação.

Mas seu aparecimento na culinária data somente de 1814. Na época, personagens que vestiam um ruban bleu (fita azul), ainda em referência à Ordre du Saint-Esprit, passaram a se reunir regularmente para banquetes.

A extravagância desses banquetes era tanta que foi daí que surgiu a ideia de Faire des festins de cordons bleus. Em português, seria algo como fazer banquetes cordon bleu.

No começo, o qualificativo era aplicado aos organizadores e realizadores desses banquetes. A partir de certo momento, porém, ele passa a caracterizar os próprios cozinheiros.

A escola Le Cordon Bleu

gastronomia francesa
Foto: Reprodução Facebook Le Cordon Bleu Brasil

Esse costume tem início em 1895, também na França. A jornalista Marthe Distel publica o primeiro journal de cuisine (jornal sobre cozinha), o La Cuisinière Cordon Bleu.

Sua intenção era formar mulheres nas arts culinaires applicables à la gestion de leur foyer (artes culinárias aplicáveis à gestão de suas casas). Com o sucesso da publicação, ela passa a fazer demonstrações culinárias e promover cursos de cozinha para suas leitoras.

Ela funda então a l’école d’Arts Culinaires Le Cordon Bleu (Escola de Artes Culinárias Cordon Bleu) em Paris. O primeiro curso foi dado dia 15 de outubro de 1895, com o Chef Charles Driessens.

É notável que, desde o início, a escola recebeu chefs importantes da época para realizar suas demonstrações culinárias. Exemplos foram Henri-Paul Pellaprat, F. Barthélémy, Charles Poulain e Auguste Colombié.

O curso ficou rapidamente conhecido e falado, de forma que a reputação da école parisienne (escola parisiense) se estendeu à vários países. Em 1897 ela acolheu seu primeiro estudante russo e em 1905 seu primeiro estudante japonês. Tudo isso em uma época em que as mobilidades entre um país e outro não eram exatamente tão fáceis quanto hoje!

A diversidade de nacionalidades chamou a atenção de jornais como o London Daily Mail. Em um artigo de 1927, o jornal afirmou “que não é raro encontrar ao menos 8 nacionalidades diferentes nas aulas”.

A evolução da Le Cordon Bleu

A direção da escola permaneceu de 1945 a 1984 com Elisabeth Brassart. Ao longo desse período, a escola passou a ser retratada como como símbolo cultural.

É o que nos mostra o exemplo do filme “Sabrina”, de Billy Wilder, de 1954. Com Audrey Hepburn no papel principal, pode-se dizer que ele também contribuiu com o renome da escola.

A partir de 1984 a família Cointreau (dos licores Cointreau) assumiu a posição de Madame Brassart. Monsieur André Cointreau empreendeu um trabalho que visava fornecer um alcance internacional da escola. Com isso, começou a abrir novas filiais em outros países além da França.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a rede de escolas Le Cordon Bleu representa hoje a primeira formação culinária do país. Uma das mais importantes cozinheiras estadunidenses, Julia Child, foi aluna da Cordon Bleu Paris. Como homenagem a ela, todos os estabelecimentos da rede de escolas participaram do lançamento do filme “Julie & Julia”.

Hoje, junto com a moda, a escola é uma das formas de propagar a cultura e art de vivre française (arte de viver francesa). Não à toa, várias escolas continuam sendo inauguradas.

A mais nova escola Cordon Bleu em Paris situa-se no 15ème arrondissement, com 4.000 metros quadrados dedicados à gastronomia francesa. O prédio possui capacidade de acolher até 1.000 estudantes. As principais aulas são focadas no estudo de:

  • arts culinaires (arte da culinária)
  • métiers du vin (trabalhos envolvendo vinhos)
  • l’hôtellerie (hotelaria)
  • restauration (restaurantes)

Faça uma visita virtual à escola por meio do vídeo abaixo:

Tradição francesa à mesa

Vinculando tradição, inovação e criatividade, a Le Cordon Bleu oferece programas de formação técnicos e/ou universitários. Ela busca atender às necessidades do setor de gastronomia e hotelaria. Assim, o aluno interessado pode optar dentre uma enorme variedade de cursos.

Os professores? Grandes chefes e profissionais da gastronomia a nível internacional. Abaixo você poderá acompanhar o relato de um estudante (brasileiro!), sobre como é sua rotina na Cordon Bleu de Paris.

Hoje, a escola está presente em 20 países, com mais de 50 escolas por todo o mundo. São filiais na Europa, Américas, Ásia e Oceania, com mais de 20.000 estudantes de 90 nacionalidades diferentes a cada ano.

A Le Cordon Bleu é reconhecida como uma das melhores formações culinárias do mundo, além de ser a guardiã das técnicas culinárias francesas.

Dentre seus alunos mais famosos, citamos Erick Jacquin, chef francês e um dos apresentadores do programa de televisão MasterChef Brasil. Também temos Flávia Quaresma, chef de cozinha brasileira e proprietária do Carême Bistrô, no Rio de Janeiro. Ela também foi apresentadora do programa Mesa para Dois, do canal GNT, junto com um outro famoso chef, Alex Atala.

É por conta de toda essa história que hoje empregamos a expressão “être un cordon bleu” (ser um cordon bleu) para designar as pessoas que cozinham bem.

Conheça mais sobre a Le Cordon Bleu

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Foto: Reprodução Facebook Le Cordon Bleu Brasil

Agora conta para gente, você conhece ou é um cordon bleu?

Se ainda não é e tem vontade de ser, fique sabendo que São Paulo e Rio de Janeiro possuem escolas.  São diversas formações oferecidas nas unidades nacionais da Le Cordon Bleu.

E, para os leitores e cozinheiros amadores, saibam que a escola publica alguns livros sobre suas técnicas! Um dos mais famosos é “Le Cordon Bleu: todas as técnicas culinárias”, possível de ser encontrado em várias livrarias.

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