Vive la France, lançado em 2013, é um daqueles filmes engraçados, com diálogos bem simples. Sem uma história super complexa de fundo, é o típico filme que queremos assistir para relaxar e dar boas risadas.
Contudo, o diferencial dele é a atenção dada para a língua francesa e para os costumes dos habitantes de várias regiões da França. Isso faz com que ele seja um ótimo filme para quem está aprendendo a língua.
Também é excelente para os que têm interesse em conhecer alguns detalhes culturais, que nem sempre temos contato ao longo de nossos estudos. Além de, claro, ver belas imagens do hexágono.
Do que se trata Vive la France?
Ao longo de 1h30, vemos a história de Muzafar (José Garcia) e Feruz (Michaël Youn). Eles são dois homens humildes, gentis, cheios de manias e hábitos questionáveis que trabalham como pastores no… Taboulistan.
Ainda que não exista no mundo real, no filme o Taboulistan é um pequeno país da Ásia central. Este é totalmente desconhecido pelas pessoas de todo o mundo. Esse fato incomoda o filho do presidente de tal país que, com o objetivo de colocar o Taboulistan na cena internacional, inicia um projeto de “terrorismo publicitário”.
Tal projeto consiste em destruir o símbolo de Paris, a Tour Eiffel! E é aqui que Muzafar e Feruz entram. O político confia essa tarefa a eles, afirmando que essa seria sua “missão de vida”.
Uma vez dada a missão, os dois homens começam a aprender o francês — e aquivemos uma das cenas mais engraçadas. Entre muita tiração de sarro com as regras da língua, a dificuldade de pronúncia e erros gramaticais, Muzafar e Feruz aprendem a se comunicar e partem para a França.
Devido a um acidente de percurso, os protagonistas não desembarcam imediatamente em Paris. Ao invés disso, desembarcam na Córsega, ilha que, apesar de ser parte do território francês, não fica no continente.
Assim, decidem chegar a Paris pedindo ajuda aos habitantes das regiões que eles passam. É ao longo desse percurso que conseguimos conhecer diversas cidades francesas, seus hábitos e cultura.
Uma nova França
É interessante que, na primeira metade do filme, uma série de acontecimentos prova o quanto o país pode ser diferente. Um lugar hostil, longe da ideia de vida perfeita e fácil que os dois protagonistas sempre ouviram falar.
Eles cruzam com nacionalistas corsas, policiais problemáticos, taxistas desonestos, torcedores violentos, garçons desagradáveis, erros médicos, entre outras situações complicadas.
É somente quando encontram Marianne (Isabelle Funaro), uma jovem jornalista, que o cenário muda. Sem saber das reais intenções de Muzafar e Feruz, Marianne resolve ajudá-los a chegar em Paris. Para isso, lhes mostra pelo caminho uma outra face da França, a de uma terra acolhedora, magnífica e generosa.
Um dos motivos pelos quais o filme é interessante para quem está aprendendo a língua é a dificuldade que os protagonistas encontram. Principalmente para aprender francês. Ainda que haja falas rápidas, o sotaque forte de Muzafar e Feruz e os erros que cometem aparecem com frequência no filme.
Por isso, até mesmo os iniciantes podem compreender uma fala ou outra e, até mesmo, se identificar com algumas cenas. Fora isso, é legal perceber a diferença na língua falada em cada região do país, assim como a utilização de gírias em francês.
As frases de Vive la France
Para você ter uma ideia desses aspectos, confira abaixo algumas das frases ditas no filme e suas respectivas traduções:
FRASE EM FRANCÊS |
TRADUÇÃO |
Ça, c’est moi, Feruz. Celui, c’est mon cousin, Muzafar | Esse sou eu, Feruz. Aquele é meu primo, Muzafar. |
Personne ne sait que nous existons ! | Ninguém sabe que nós existimos! |
Ici, c’est pas la France, c’est Marseille | Aqui não é a França, aqui é Marseille |
On ne bouge pas d’ici tant qu’on n’a pas la garantie qu’il va récupérer son rein ! | Nós não sairemos daqui sem que nós tenhamos a garantia que ele vai recuperar seu rim! |
Deux minutes maman, je bosse ! | Dois minutos, mamãe, eu estou trabalhando! |
La France, meilleure cuisine du monde ! | França, melhor cozinha do mundo! |
Qu’est-ce que tu fais jeune ? Tu aimes pas la vie ou quoi? | O que você está fazendo jovem? Você não ama a vida ou o que? |
Lors de la création du monde, Dieu décida d’inventer le plus beau de tous les pays et il a mis dedans tout ce que le monde comptait de merveilles. Il appella ce pays la France… | Quando Deus criou o mundo, ele decidiu inventar o mais bonito de todos os países e colocou dentro tudo o que o mundo tinha de maravilhas. Ele chamou esse país de França. |
Mais pour rétablir l’égalité avec les autres pays, Dieu décida de mettre dans ce pays… les Français. | Mas para restabelecer a igualdade com os outros países, Deus decidiu de colocar nesse país… os franceses. |
Regarde ce que j’ai pour toi : le gilet kamikaze ajustable sur-mesure. | Olhe o que eu tenho para você: um colete kamikaze ajustável sob medida. |
Oh, tu vas te détendre avec tes réflexions du Moyen-âge. | Ah, vá para lá com suas reflexões da idade média. |
Madame, je vais vous dire un truc franchement, mais alors franchement… je m’en tape mais alors, je m’en tape à un point, c’est violent. | Senhora, eu vou te dizer uma coisa francamente, mas francamente… eu não ligo, mas eu não ligo a um ponto que é violento. |
Taboulé, pas venir du Liban. Taboulé venir du Taboulistan. | Taboulé, não « vir » do Líbano. Taboulé “vir” do Taboulistan. |
Bon, pour Paris, faites demi-tour, marchez droit vers le Nord, dès que vous voyez des têtes de cons, c’est que vous êtes arrivés. | Bom, para chegar em Paris, faça meia volta, ande reto até o norte, assim que você ver uns idiotas, você chegou. |
Qu’est-ce qu’il fait chaud ce soir. Vous trouvez pas Monsieur le Gendarme ? | Mas como está calor essa noite. Você não acha, senhor militar? |
Ça va se terminer en drame pour eux et en pôle emploi pour vous, c’est clair? | Isso vai terminar em drama para eles e em busca de emprego para você, está claro ? |
Moi, j’ai la clim. | Eu tenho um climatizador. |
Commencer pas à faire vos farouches sinon c’est charter direct pour Bagdad. | Não comecem a bancar os raivosos, senão vocês vão direto para Bagdá |
Je veux plus m’exploser, je veux m’éclater. | Eu não quero mais me explodir, eu quero me divertir. |
Notre mission : écraser notre avion sur la tour Eiffel de Paris. | Nossa missão: bater nosso avião na torre Eiffel de Paris. |
Motivos para assistir Vive la France
Para além da questão da língua, Vive la France vale a pena ser visto por uma série de outras razões. Ele é permeado de uma autocrítica bem humorada no que se refere à hábitos arraigados dos franceses.
Seus problemas internos, os problemas externos ao país (como o próprio terrorismo) e seus estereótipos variados. Da própria de ideia de que a França é resumida a Paris, à suposta hostilidade dos franceses em geral.
Fora isso, o tempo todo vemos símbolos da França serem mobilizados. A própria personagem Marianne, que tem como missão mostrar que a França é boa para quem quer que pise lá (seja estrangeiro ou não), faz referência ao símbolo da república francesa de mesmo nome.
Por fim, as imagens do país são lindas! Do céu azul de Marseille, seguindo pelas paisagens das petits villages (pequenas cidades) no interior do país ao som de Douce France, de Charles Trenet. Chegando aos pontos turísticos de Paris, mostrados com a canção Les prénoms de Paris, de Jacques Brel, nada decepciona.
Agora que você já conhece o enredo e os pontos positivos de Vive la France, confira a bande-annonce (trailer) do filme e veja o que você acha 😊